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quarta-feira, outubro 06, 2010



Poeta, escritora, roteirista e cronista.

“Teço vivências em linhas do presente. Sou colcha de retalhos com emendas de lucidez e loucura...”


Una, é também o múltiplo das mil faces de todas as mulheres. Desvenda  nas suas letras o nosso jeito e as nossas diversidades femininas. Em seus olhares caleidoscópicos a vida se projeta e se reflete por todos os ângulos em multiplicidades simultâneas.

Quando o sentimento perde o significado, ecoa no corpo a ausência de conteúdo e resta o silêncio a reverberar no pensamento. Não há respostas para as contraditórias interrogações. Como? Por quê? Quando? Algumas emoções são presas fáceis para a armadilha de palavras e se deixam enredar num poema de versos livres. Abandonam-se à sorte, fadadas aos finais reticentes. Abandonam-se ao outro. Abandonam-se! Mas...
Sufoco os gritos e respiro amanhãs. Costuro palavra por palavra nas vestes das escoriadas emoções. Não desafio mais a liberdade. Estou viva!
HS

Acredita que a literatura é a única forma de costurar suas percepções e vivências – uma colcha de retalhos que muitas vezes não conforta, mas é a própria construção do significado no mundo.

Não gosto da palavra vítima, substantivo empobrecido que somente consegue ser sujeito de sofrimento. Sempre busquei alguma culpa para transcender a passividade e recriar a palavra na pluralidade das ações, mas existem buscas estéreis. Sacrifício, desastre, tortura, revolta, imolação... Tantas palavras atormentam e acendem os conflitos íntimos. Vítima! Resta sofrer enquanto o dano repercute em confusão e deixa seqüelas. Algo se rompeu e sangra o longo processo da cicatrização do medo... Algo se libertou e escreve no corpo expressões ilegíveis de inquietude e que provavelmente não poderá ser verbalizado... Algo expirou.
Não gosto da palavra. Vítima é sentença passada em julgado, oração pretérita que somente atrai a compaixão.
” HS

A Poesia de Helena Sut
FRAGMENTO


Procuro-me por aí
Lugar distante
Compromissado encontro
Onde os olhos não vão
Não me enxergam
Rejeitando-me
Ficam cegos.
Procuro-me por aí
No horizonte
Na margem dos sonhos
Mas a linha sempre foge
E perdida no mesmo espaço
Brindo o abandono.
Procuro-me por aí
De tão perto ficou longe
Enterro-me em busca do centro
E na placa a mensagem:
Procura-se um eu errante.
OLHAR FORASTEIRO

Desejo descobrir a intenção
Perdida entre os véus da noite
Com os olhos das estrelas anciãs
Que velam a nossa escuridão
Enquanto olhares forasteiros
Encontram os nossos mistérios.
Desejo caminhar no céu
Desarmar a armadilha do esquecimento
Derramada sobre o espelho do mar
Na busca pelo barqueiro
E reencontrar, suspenso no horizonte,
O cais entre as correntes de estórias.
Desejo ser o olhar
A noite, o dia, o mistério,
O prazer de ser apenas a vida
Forasteira e plena de perguntas
E encontrar nos caminhos de Sasso
As pedras da minha identidade.

                                  A diversidade da escritura poética de Helena Sut


EUSEBIUS E FLORESTAN (Homenagem a Schumann)


Florestan e Eusebius marcam as biografias de Schumann como as personalidades contrastantes do grande representante do romantismo alemão que, segundo Carpeaux, foi consagrado como o poeta do piano. O compositor presenteou a humanidade com obras como Devaneios (Träumerei) nas Cenas Infantis Op. 15 (Kinderszenen) e o divino Concerto para piano em lá menor.

Criados pelo compositor como pseudônimos para assinar os artigos na Nova Revista de Música (Neue Zeitschrift für Musik) fundada por Schumann em 1834, Florestan e Eusebius eram os heterônimos do articulista e significavam as próprias faces do compositor. Personagens imaginários que encarnaram os aspectos de sua natureza ambígua e oscilaram entre suas crises de profunda depressão e seus períodos de intensa criatividade. O enérgico e o sonhador, o arrebatado e o reflexivo, o dionisíaco e o apolíneo...

Com o sentimento projetado num jogo de espelhos coloridos, sua música era a concepção fiel de sua personalidade, uma subjetividade que não se ajustava às formas definidas, um caleidoscópio de palavras, sons e idéias. Ora Florestan, ora Eusebius, porém nunca um ser morno, sem paixões ou reflexões, adaptado aos padrões da época.

O filho do livreiro, que viveu imerso na literatura durante a adolescência, poderia ser poeta ou advogado, como queria sua mãe, mas foi na composição musical que encontrou o tecido perfeito para cerzir definitivamente o som com a idéia. Schumann era um intelectual.

Robert Schumann protagonizou o mais belo idílio amoroso da história da música com a exímia pianista Clara Wieck Schumann, mas o amor não foi suficiente para fazê-lo esquecer da proximidade da loucura. O medo escrevia o seu desfecho.

Sofria perturbações psíquicas cada vez mais graves que culminaram nas alucinações em que ouvia harmonias que lhe chegavam do céu trazidas pelos anjos e percebia os demônios que o ameaçavam com o inferno. A razão e a impulsividade do homem, que sempre se inspirou em histórias imaginárias, cheias de duplos, tomavam rumos irreversíveis e o lançaram no rio Reno em 27 de fevereiro de 1854 numa desesperada tentativa de suicídio.

Privado dos sonhos e da clareza da realidade, Schumann desistiu de tentar vencer a loucura e pediu para ser internado num sanatório para doentes mentais em Endenich perto de Bonn. Distante dos seus, talvez a terceira personalidade pouco conhecida, Meister Raro, o moderador, que tantas vezes interveio como conciliador de Eusebius e Florestan, tenha tentado resgatar o gênio, mas a vesânia venceu e, dois anos após, em 29 de julho de 1856, o mundo se despedia do grande compositor romântico e de seus duplos.

Helena Sut

EU, INGMAR BERGMAN E O RELÓGIO


Um relógio sem ponteiros. Um recém-nascido que não chora, um ancião que não lamenta, uma vida que passa em branco, uma morte encarcerada em circunstâncias perdidas de contexto. Tantas expressões remotas impressas no tempo perdido. Mas, sem ponteiros, o relógio permanece, dubiamente, como uma superfície frágil e aterradora, capaz de rasgar o futuro com a ausência de perspectiva. Silêncio!

A metáfora que traduz a jornada de Isak Borg, protagonista do filme Morangos Silvestres, é perfeita para decifrar a marcação das horas presente em todas as obras de Ingmar Bergman. Horas violadas no romper das emoções. Uma busca desesperada para compreender o sofrimento e superá-lo. Reconciliação!

Desperto assustada. Pela primeira vez sonho que estou perdendo a visão ofuscada pela claridade. Percebo fragmentos de uma realidade improvável enquanto sou enclausurada num lugar em ruínas. Estilhaços de vivências formam o mosaico onírico do medo. Acordo, violando o cárcere, e permaneço em busca das origens do sonho. Tento me reencontrar no tempo, mas o relógio automático distante do corpo é silêncio.

Os ponteiros permanecem indiferentes às minhas palpitações. Os sons denunciam a noite. Às cegas, insisto em tatear o sono. Mas... Insônia é como um ponteiro que tenta fugir do relógio. Revolução de sentimentos que alardeiam idéias desencontradas. Ansiedade!

Rendo-me! Basta! Sou a face do relógio e deixo a noite me atravessar até que o amanhecer me traga as sombras dos ponteiros.
Helena Sut
               
                BIOGRAFIA

Helena Sut nasceu no Rio de Janeiro em 19 de novembro de 1969 e reside em Curitiba há oito anos. Autora dos livros: Sonhos e Cicatrizes (Editora Quem de Direito – 2001), Beatriz Navegante e Confissões de uma Barriga (Editora Quem de Direito – 2002), Alfinetes de Lapela (Editora Papel Virtual – 2003), Todas as Ovelhas são Pardas (Editora Quem de Direito – 2003). Apresentou livros na 48ª Feira do Livro de Porto Alegre (2002) e na Bienal do Livro do Rio de Janeiro (2003). Participou da coletânea de poesias Próximas Palavras, lançada em julho de 2002 em Curitiba, além de outras coletâneas no Rio de Janeiro e Brasília.


Escreveu crônicas para a coluna Arte & Cultura da Agência Carta Maior (www.agenciacartamaior.com.br) de março de 2003 a julho de 2007, onde também colaborou com resenhas literárias, principalmente na coluna Lusofonia sobre autores africanos e portugueses lusófonos. Durante dois anos escreveu resenhas literárias para o Jornal Concurso & Carreira em Curitiba (2003 a 2005). Colabora com vários sites literários: Brasil Cultura (www.brasilcultura.com.br), Overmundo (www.overmundo.com.br), entre outros.


Em 2006, escreveu o conto infantil Reino das Costas - O reino encantado do menino Mozart (inédito), baseado em fatos verídicos da infância do compositor. O texto foi adaptado para teatro com o objetivo de estimular o conhecimento de música por meio da sensibilização artística. E a peça teatral Portas Entreabertas, em parceria com o ator Danilo Avelleda e a poeta Marilda Confortin, texto poético sobre o reencontro com a vida de dois seres em situações extremas: um artista de 80 anos que perdeu a inspiração e uma mulher de 30 que acha que está com uma doença terminal. A peça esteve em cartaz no Teatro Edson D’Ávilla de 19 de maio a 1º de julho de 2007, no Teatro Mini Guaíra em 26 de agosto - teatro para o povo - e no Teatro Barracão.


Em 2007, concluiu a novela Diário de Outono. Uma narrativa de exílios que tem como desfecho o reencontro do ser com a sua história e a compreensão da vida.

BIBLIOGRAFIA

1 - OBRAS INDIVIDUAIS

1 - 01 — Sonhos e cicatrizes - Editora Quem de direito - PR - 2001 - contos
1 - 02 — Beatriz Navegante e Confissões de uma barriga - Editora Quem de direito - PR - 2002 - contos
1 - 03 — Alfinetes de lapela - Editora Papel Virtual - RJ - 2003 - contos


2 - OBRAS COLETIVAS 

2 - 01 — Próximas palavras - Editora Quem de direito - PR - 2002 - Coletânea de poesias com outros autores entre eles: Paulo Hecker Filho, Walmor Marcellino, Nelson Padrella, Fernando Castro
2 - 02 — Poemas di versos - Instituto Euclides da Cunha apoio da Academia Paranaense de Letras - 2001 - Coletânea de poesias
2 - 03 — Contos e Crônicas - Littteris Editora - RJ - 1992
2 - 04 — Valores literários do Brasil - Volume XIII - Revista Brasília - Brasília - 1992
2 - 05 — VII Antologia de Poetas e Escritores do Brasil - Revista Brasília - Brasília - 1992
2 - 06 — Balcão de poesias - Editora Litteris - RJ - 1992
2 - 07 — Momentos Poéticos - Litteris Editora - RJ - 1992
2 - 08 — Escritores & escritoras de outo - Litteris Editora - RJ - 1992
2 - 09 — Poesia da Metrópole - Litteris Editora - 1991 - RJ

3 comentários:

  1. Grande Helena! Considero-a um fenômeno!
    Bjs
    Belvedere

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  2. A poesia de Helena revela o universo interior. Com imagens coletivas que extrapola a própria poetisa. Com diz Pablo Neruda "A poesia não é uma matéria estática, mas uma corrente fluida que muitas vezes escapa das mãos do próprio criador. (...)" Assim é a poesia, assim é o poeta, assim é Helena. Agradecido, José

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  3. Helena! Só tenho a lhe agradecer por esse enriquecimento para minha alma...e para milhões de vidas...
    Obrigada por vc existir...

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Obrigada por sua visita.
Boas Leituras!